O Instituto Nacional de Criminalística (INC) da Polícia Federal sediou, entre os dias 3 e 7 de novembro, o Curso Regional sobre Novas Substâncias Psicoativas (NSP), iniciativa promovida pela Diretoria Técnico-Científica (DITEC/PF) com apoio do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), por meio do Projeto SynthCoop. A capacitação integra as ações do Programa Nacional de Integração de Dados Periciais sobre Drogas (PNIDD), desenvolvido pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (SENAD), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em parceria com a Polícia Federal.
O curso reuniu especialistas em química forense do Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai, com o objetivo de fortalecer a capacidade técnica de identificação, análise e resposta institucional às NSP — substâncias sintéticas emergentes que representam um dos principais desafios da atual política antidrogas.
A perita criminal federal e suplente de secretária-geral da APCF, Mônica Paulo, também professora do curso, destacou a importância da cooperação entre os países. “É interessante essa integração porque podemos compartilhar experiências, verificar se a realidade deles é parecida e também estabelecer uma rede de informações entre peritos criminais desses países”, avalia.
Durante a semana, os participantes desenvolveram atividades práticas de identificação e classificação de substâncias, amostragem, exames preliminares e uso de metodologias analíticas empregadas por laboratórios forenses brasileiros e estrangeiros.
Em continuação ao curso, entre os dias 10 e 12 de novembro ocorrerá um evento que discutirá a temática das NSP na região. Haverá reuniões com enfoque em Sistemas de Alerta Rápido, incluindo painéis temáticos e workshops, acompanhamento de tendências regionais e cooperação técnica entre países do Cone Sul.
O coordenador do Projeto SynthCoop do UNODC no Brasil, Gabriel Andreuccetti, ressaltou que a integração regional tem papel decisivo para o enfrentamento às drogas sintéticas. “Essa parceria é essencial para integrar os sistemas de alerta rápido já existentes na região com o que acontece no Brasil. A Polícia Federal tem um know-how enorme nessa área, e essas capacitações só vêm a agregar ao que ocorre na realidade de outros países”, destacou.
Segundo ele, a cooperação fortalece a resposta científica e institucional dos países envolvidos. “De acordo com o sistema de alerta rápido global do UNODC, no ano passado foram quase 700 novas substâncias identificadas — um recorde histórico. O trabalho conjunto busca proteger a sociedade brasileira e sul-americana desses riscos”, acrescentou.
Instrutora da capacitação, a perita criminal federal Luiza Nicolau Brandão Caldas ressaltou que o curso foi planejado para unir prática laboratorial e troca de conhecimento. “Falamos sobre exames preliminares, amostragem, preparo da amostra e tipos de análise que podem ser utilizados. Depois, no laboratório, os participantes aplicam o que aprenderam, discutem desafios e trocam soluções. É um curso que a gente dá com muito amor”, contou.
Da Argentina, Julieta Cabrera, chefe do Laboratório de Narcotráfico do Ministério Público Fiscal de Córdoba, destacou o caráter colaborativo da experiência. “Os professores são excelentes e transmitem seus conhecimentos de forma espetacular. Este espaço, por ser mais personalizado, estimula a troca de experiências e a criação de vínculos para que possamos manter essa rede de trabalho no futuro”, afirmou.
O perito criminal Ulisses Vargas Pereira, do Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul, também enfatizou o aprendizado coletivo. “Tem sido muito proveitoso. Espero levar essa experiência para difundir o conhecimento no nosso estado e aprimorar cada vez mais a identificação de novas substâncias psicoativas”, disse.
Desde 2020, mais de 800 novas substâncias psicoativas foram identificadas no Brasil, de acordo com dados da Polícia Federal. O avanço desses compostos evidencia a importância de iniciativas voltadas à atualização e integração dos laboratórios forenses. O Projeto SynthCoop, conduzido pelo UNODC em cooperação com a Polícia Federal e com apoio do INL, tem promovido o fortalecimento técnico e científico das perícias da região, consolidando redes de troca de informações e de capacitação conjunta.


