O perito criminal federal João Macedo desenvolveu um software inédito, sem igual no mercado, que permite à Polícia Federal identificar pornografia infantil com agilidade e eficiência. Fruto de pesquisas durante seu mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais, o método elaborado por Macedo utiliza estimativa de idade para detectar imagens e vídeos associados a esse tipo de crime.
Para chegar ao resultado, o perito federal utilizou técnicas de deep learning (aprendizado profundo), que empregam recursos de aprendizado de máquina capazes de aprender a partir da análise de uma grande quantidade de dados. A ferramenta é composta por três módulos. Dois deles servem para fazer a classificação de pornografia e reconhecimento facial – já existentes no mercado. A novidade fica por conta do método de estimativa de idade.
“Todos os três módulos são baseados em redes neurais convolucionais, que são inspiradas no funcionamento do cortex visual e representam o estado-da-arte em termos de aprendizado de máquina. A análise de cada imagem começa com a classificação quanto à pornografia, que pode ser alta, média ou baixa. Em seguida, é realizada a detecção de faces das imagens e, para cada face, é realizada a estimativa de idade”, explica Macedo.
Procedimento
O primeiro ponto analisado na ferramenta de reconhecimento é a presença potencial de pornografia. Em caso positivo, as faces são extraídas e, então, classificadas pelo módulo de estimativa de idade (adultos ou crianças, por gênero e faixa etária).
A verificação de um arquivo de imagem leva, em média, 0,4 segundo (0,06s para classificação de pornografia, 0,32s para detecção de faces e 0,02s para estimativa de idade). No caso de vídeo, a detecção se dá por meio de processo de amostragem e classificação de quadros, resultando na seleção dos quadros mais significativos para o propósito da investigação.
“A principal vantagem dessa ferramenta é reduzir o tempo de análise de arquivos de imagem e principalmente de vídeos, uma tarefa que demanda muito tempo e tem um custo psicológico, pois contém cenas muitas vezes perturbadoras. A utilização de uma ferramenta como esta permite filtrar um grande universo de arquivos e fornecer categorias com maior probabilidade de se encontrar o material pesquisado”, diz Macedo.
Realidade no Brasil
Apesar de ser crime, o consumo de pornografia infantil ainda é uma realidade difícil de ser combatida. O Brasil, por exemplo, é um dos maiores consumidores desse tipo de material ilegal no mundo, mercado que movimenta bilhões de dólares por ano.
Segundo a ONG Safernet, entidade que atua na promoção e defesa dos direitos humanos na internet, foram mais de 60 mil denúncias de pornografia infanto-juvenil realizadas no país em 2018, um aumento de 79,58% em relação ao ano anterior.