De 27 a 29 de novembro, o Instituto Nacional de Criminalística (INC), em Brasília, foi palco do 1° Workshop Nacional sobre Isótopos Forenses. O evento reuniu peritos criminais federais e estaduais, pesquisadores, estudantes e demais profissionais atuantes no ramo da ciência isotópica. O encontro marcou ainda a apresentação da Rede Nacional de Isótopos Forenses (Renif), idealizada para congregar os esforços e iniciativas da área de conhecimento.
Geólogo, o Diretor Técnico-Científico (Ditec) da Polícia Federal, Fábio Salvador, participou da mesa de abertura do workshop. Ele destacou que a ciência isotópica teve muitos avanços nos últimos, e que esse progresso precisa ser incorporado na área forense. Tendo em vista a realidade brasileira no ramo, para ele, é necessário o debate do tema.
“O rol de possibilidades que abrange a isotopia forense na resolução de casos criminais é muito grande. Então, todas as áreas podem ser beneficiadas com os estudos que vamos começar a desenvolver com mais intensidade. Mas para que isso aconteça, o conhecimento que já existe dentro das universidades, precisa ser trazida para a PF”, disse Salvador.
Entre os objetivos do evento: discutir o estado da arte sobre a área forense isotópica no Brasil; e montar os protocolos básicos para coleta, preparação, armazenamento, remessa e análise isotópica. Ao todo, foram mais de 17 palestras, além da apresentação dos grupos de trabalho para elaboração dos protocolos de coleta e processamento de amostras.
Um dos organizadores do evento e palestrante, o perito criminal federal Rodrigo Mayrink falou sobre a implantação do Laboratório de Isótopos Forenses da PF (Lanif). “A PF, por meio do Ditec e do INC, está em fase de implementação do seu Programa Nacional de Isótopos Forenses”, afirmou. Segundo ele, a iniciativa visa o desenvolvimento e aplicação de técnicas isotópicas em exames periciais de vestígios criminais nas mais diversas áreas da criminalística, tais como crimes ambientais, crimes contra a vida, perícias de local de crime, análise de drogas ilícitas, falsificação de documentos, mercadorias, obras de arte, dentre outras.
“O eixo central do programa é a criação do Laboratório Nacional de Isótopos Forenses, que será viabilizado a partir da aquisição de dois equipamentos de espectrometria de massas de razão isotópica, a serem instalados nos laboratórios da PF em Manaus e Brasília”, complementou Mayrink.
Para o perito federal Marcus Vinícius Andrade, um dos entusiastas da iniciativa, o workshop foi uma “oportunidade única e inovadora para a integração e o estabelecimento de parcerias entre instituições que já atuam na ciência isotópica e que tenham interesse em articular esforços para aplicação desse conhecimento na área forense, visando tanto a pesquisa científica e difusão de conhecimentos quanto o desenvolvimento de ferramentas aplicáveis à resolução de casos criminais”.
Importância do debate
Grandes especialistas da ciência isotópica passaram pelo evento. O professor da Universidade de São Paulo (USP) Luiz Martinelli ponderou que a iniciativa de promover um encontro sobre a temática é um marco histórico. “É histórico para mim, porque trabalho com isótopos há 37 e é a primeira vez que eu vejo uma reunião para discutir a área mais afundo. E é muito bom ver a Polícia Federal se aproximando da academia, e a academia se aproximando da Polícia Federal.”
O pesquisador Roberto Ventura, da Universidade de Brasília (UnB), também foi um dos palestrantes. “Acho que já passou do tempo dessa aproximação, dessa integração das polícias com as universidades. É uma oportunidade de discutirmos como é que podemos avançar um pouco mais em relação a essa questão”, alegou.
A professora Gabriela Nardoto, também da UnB, é uma grande entusiasta da isotopia forense. “Ver hoje um evento como esse, específico sobre o tema, sendo realizado é realmente um marco histórico. Acredito que, a partir dessa iniciativa, com essa integração, teremos um grande avanço.”
O 1° Workshop Nacional sobre Isótopos Forenses contou com apoio institucional da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF).
Fotos: Deiler Paulo